quarta-feira, 30 de dezembro de 2009
Em 2010 a Primeira Coletânea de Artigos do Blog
segunda-feira, 28 de dezembro de 2009
Transdisciplinaridade e Equoterapia : um novo paradigma
Em primeiro lugar, a recusa a reduzir o ser humano a quaisquer que sejam as definições oferecidas pelas filosofias disponíveis. Em segundo lugar, a aceitação de diferentes níveis de realidade regidos por diferentes tipos de lógica. Em terceiro, a abordagem das disciplinas oferecida pela transdisciplinaridade, inclusive a nova visão da natureza e da realidade, tanto quanto a recusa da superioridade de uma determinada disciplina sobre qualquer outra. E a unificação prática e semântica de significados que transpassam e vão além de todas as disciplinas. Estamos ainda sujeitos a condicionamentos mecanicistas e reducionistas implícitos no paradigma Cartesiano/Newtoniano. O homem foi feito máquina. E assim, tornou-se objeto de técnicos. Além disso, os meios e as relações de produção capitalistas geraram um profundo processo de ruptura, de fragmentação, de egocentrismo, de desintegração da solidariedade. O homem é partido em múltiplas e conflitivas personae, a maioria delas determinadas pelas necessidades de produção e pelas demandas da sociedade capitalista. Bens de consumo baratos produzidos em larga escala são a fonte de poluição e degradação que estão ameaçando o meio ambiente em que vivemos. Fundamentalismos religiosos, sectarismos de diversos tipos, cegueiras e loucuras políticas, extremas avareza e cobiça sob o título de livre mercado são a fonte de miséria extrema, guerras e degradação humana. No campo da saúde humana, processos semelhantes acontecem. Pesquisas médicas são direcionadas às doenças geradoras de lucros e às suas drogas curativas. Parquíssimos recursos são destinados à prevenção, educação e saúde pública. O corpo humano é retalhado em partes e entregue aos cuidados de diferentes técnicos e técnicas. Sem alma, sem totalidade, sem ternura. Avareza e corrupção emergem. Ao final de tudo, pode-se concluir que as práticas políticas e as teorias econômicas ainda prevalentes abrem caminho para considerar todas essas perversidades como valores básicos, quando são de fato cruéis, fragmentadoras e polimórficas patologias humanas. Em julho de 1997, em uma entrevista para a revista Label France conduzida por Anne Rapin, quando perguntado sobre globalização e a “era planetária”, Edgar Morin respondeu que “…De fato, porque a globalização está fora de controle, ela é acompanhada por muitas instâncias de regressão. Mas, é uma possibilidade que poderia ser desejável. Obviamente, a globalização tem um aspecto muito destrutivo: ela gera anonimato, reduz as culturas individuais a um denominador comum e padroniza identidades. Contudo, ela é também uma oportunidade única para promover a comunicação e o entendimento entre as várias culturas dos povos do planeta e encorajar sua mistura (blending). Este novo capítulo acontecerá apenas quando nos tornemos inteiramente conscientes do fato de que somos cidadãos do planeta antes de tudo, e então europeus, franceses, africanos, americanos... o planeta é nosso lar, um fato que não nega os lares individuais de outros. A consciência de nosso destino global como uma comunidade é o pré-requisito para a mudança que nos permitiria agir como co-pilotos do planeta, cujos problemas se tornaram inseparavelmente inter-relacionados. Caso contrário, iremos experimentar um destino semelhante àquele da “balcanização”, uma retaliação violenta e defensiva contra etnias específicas ou identidades religiosas, o que é o oposto deste processo de unificação e solidariedade através do planeta.” Agora, a globalização aqui está, a diversidade está aqui; o pensamento linear causa-efeito ainda regula nosso mundo moderno. Como podemos lidar com um tão vasto universo de disciplinas? Como a transdisciplinaridade pode nos ajudar? O campo atual da equoterapia em todo o mundo é ainda fortemente marcado pelo paradigma tradicional Cartesiano. A Babel de expressões que perpassa nosso campo de trabalho é um sintoma preocupante, mais do que uma salutar diversidade. Marguerite Malone (Serendipity Farm, Tuscaloosa/Alabama) chamou-me a atenção para um artigo de autoria de Ann C. Alden, ex-presidente da EFMHA, no qual se empenha em listar e definir os vários anacronismos usados no campo e que ela chama de “Sopa de Alfabeto”, que poderíamos chamar de “Sopa de Letrinhas”. Para ilustrar o sintoma acima descrito, apresentamos a seguir uma breve lista de denominações usadas para identificar o que fazemos. – Riding therapy (terapia através de equitação); – Therapeutic riding (equitação terapêutica); – Riding for the handicapped (equitação para deficientes); – Riding for the disabled (equitação para incapacitados);– Hippotherapy, hippotherapie (hipoterapia); – Equinoterapia; – Equotherapy, equoterapia; – Equine Assisted Therapy (terapia com auxílio de eqüino); – Equine Facilitated Therapy (terapia facilitada pela utilização de eqüinos); – Horseback Assisted Therapy (terapia com apoio de montaria a cavalo); – Equestrian re-education (reeducação eqüestre); – Equestrian rehabilitation (reabilitação eqüestre). Sofremos todos, com certeza, as conseqüências de nossa “Sopa de Alfabeto”, em nossa querida Torre de Babel. Comunicações difíceis, algumas vezes impossível, para dizer o menos. Não apenas entre nós, mas também com nossos associados, patrocinadores, praticantes e suas famílias e com o público. Embora não seja o propósito deste trabalho justificar e explorar a necessidade de adoção de uma linguagem unificada, este autor sugere enfaticamente a expressão equoterapia, cunhada pela Ande Brasil – Associação Nacional de Equoterapia. Esta palavra simples e densa inclui os termos “Equus” e “therapeia”. A expressão equoterapia está ainda livre de conotações comprometedoras e pode bem representar a abordagem transdisciplinar para as atividades terapêuticas conduzidas com a ajuda de um eqüino e de uma equipe multiprofissional. É seguro que uma palavra universalmente aceita muito contribuiria para unificar o campo das terapias com auxílio do cavalo e o aproximaria muito do paradigma transdisciplinar. Mais sintomático do que a diversidade de denominações para nossa atividade profissional é o modo como categorizamos nossos procedimentos técnicos. Em geral, os procedimentos terapêuticos são classificados de acordo com “programas”, ou metodologias específicas, especializadas, baseadas em um dado modo de perceber a patologia do cliente e suas necessidades percebidas. Eles são muito bem fundamentados, mas são também absolutamente fragmentadores. Eles são diretamente derivados dos paradigmas fragmentários e são por eles condicionados. Programas fragmentários, não importa o quanto sejam bem fundamentados, partem de uma concepção de um sujeito fragmentado e levam a abordagens fragmentárias, a equipes fragmentadas. Não podemos desconsiderar os efeitos condicionadores de estigmas avaliativos apoiados em técnicas de diagnóstico fragmentárias, baseados em simples percepções pessoais ou preconceitos institucionalmente predefinidos: equitação para deficientes ou para incapacitados. A diversidade de campos possíveis de conhecimento capazes de contribuir para a amenização do sofrimento humano com a ajuda de eqüinos é imensa. Assim também o número de pessoas capazes de ajudar. Mas, elas estão longe de nós. Elas não atendem aos nossos “elevados” padrões e requerimentos. Elas não estão formalmente incluídas no mundo científico. Pretendemos utilizar metodologias “inclusivas”, mas excluímos mais do que incluímos. De certo modo, agrada-nos sermos “exclusivos”, “prime”. Não é mera coincidência que as estratégias de marketing explorem tanto tais expressões. E elas nos fisgam. É nosso desafio diário colocar em prática o novo paradigma em nossas atividades, em nossos procedimentos terapêuticos. Se a concepção programática é adotada, cai-se facilmente no velho paradigma. Mesmo quando se tem o discurso do novo paradigma, é extremamente difícil colocá-lo em ação. Nossas qualificações profissionais, nossa formação acadêmica, nossos treinamentos e experiências em campos específicos, nosso compromisso formal com limites legais e profissionais, tudo isso contribui para a adesão ao velho paradigma. E esses tópicos não são nada simples. Permitam-me ilustrar meu ponto de vista utilizando o Equovida, um centro de equoterapia no Rio de Janeiro, Brasil, no qual o autor exerce um papel de coordenação. Somos atualmente uma equipe de 14 profissionais: 3 psicólogos, 5 fisioterapeutas, 3 fonoaudiólogos, 1 arte-terapeuta, 2 profissionais de equitação, e dispomos de cinco cavalos. Esta equipe desenvolveu-se através de um processo de seleção natural, com muita discussão. Quem deve conduzir o cavalo? Quem conduz a sessão terapêutica? Consideremos um primeiro caso: uma menina com paralisia cerebral. Este é um caso para hipoterapia, certo? O equitador conduz o cavalo, o fisioterapeuta conduz a sessão, certo? O psicólogo conversa com a família, certo? Vejamos o segundo caso: um menino autista. Este é um caso para o psicólogo, que conduz a sessão, certo? O equitador conduz o cavalo, certo? Posso ousar dizer que a resposta pode ser não, que não está certo? A menina com a paralisia cerebral pode ter sérios problemas de comunicação, possivelmente devidos a uma certa ordem de deficiências. O menino autista pode também apresentar sérios problemas de comunicação, possivelmente devidos a outros tipos de mau funcionamento. Nós reconhecemos que também nós temos sérios problemas de comunicação. Discutimos os casos. Todos da equipe. Todos, mesmo: psicólogo, fisioterapeuta, fono, arte-terapeuta, equitador. E outros profissionais, caso os tivéssemos. Após a discussão, três ou quatro de nós vamos para a pista, todos ao mesmo tempo. Nossas sessões são sempre individuais, no que diz respeito ao praticante. Um praticante, três ou quatro terapeutas. Algumas vezes, duas sessões ocorrem ao mesmo tempo: dois praticantes, cada um com sua equipe. Os praticantes escolhem o seu parceiro principal e certamente nos ajudam a escolher o cavalo. O parceiro principal conduz a sessão. As intervenções fluem. Algumas vezes, o equitador faz a interlocução com o praticante, o fisioterapeuta conduz o cavalo, a fono faz o apoio lateral, a arte-terapeuta conversa com a família. Ao final do dia, mais discussões em equipe. A interpenetração é permanente, os quebra-cabeças são compostos de peças que mudam de forma e apresentam figuras diferentes. Nenhuma peça é rígida, fixa. Muitas vezes, o estresse emerge. O caminho mais curto não é necessariamente o melhor caminho. Mais discussão é necessária. Quando o sol começa a se pôr atrás das montanhas e a luz amarelo-alaranjado do entardecer se filtra através das folhas da grande mangueira, um halo mágico ilumina a pista. As selas, brinquedos, cabeçadas são recolhidos e guardados. Grupos se reúnem; vozes, emoções, piadas, abraços, despedidas. Outro longo e exaustivo dia acaba. Esta é a nossa equoterapia.
Amauri Solon Ribeiro - Resumo
segunda-feira, 21 de dezembro de 2009
O Efeito Positivo da Equoterapia em Cegos
... manter o equilíbrio significa, a principio, reconhecer uma atitude corporal pelo senso postural, depois reajustar sua posição. O cavaleiro deve coordenar seus próprios movimentos e dissociar os gestos dos braços e pernas. Ele é, portanto, conduzido a uma melhor compreensão de seu esquema corporal. Ele adquire, desde um primeiro contato, o domínio corporal, aprendizagem que, num primeiro momento, vai ser favorecida pelo terapeuta. É um trabalho que demanda concentração.Sabemos que o aprendizado das técnicas eqüestres exige que o cavaleiro mantenha uma colocação correta na sela, ou seja, manter o tempo todo uma postura adequada, o tronco ereto e a cabeça perpendicular em relação ao solo, além de ter que dissociar os movimentos de braços e pernas, para que acompanhe os movimentos tridimensionais do dorso do cavalo e possa realizar o manejo correto das rédeas.Durante as sessões de equoterapia, essas ações são desenvolvidas e estimuladas pelos terapeutas, fazendo com que o praticante realize o aprendizado correto da postura a cavalo. E como essas estimulações ocorrem por um período de 30 minutos, o número de informações proprioceptivas que provêm das regiões articulares, musculares, periarticulares e tendinosas são bastante diferentes das fornecidas quando estamos na posição de pé. As informações proprioceptivas dadas pelo passo do cavalo permitem a criação de esquemas motores novos: trata-se da reeducação neuromuscular.Relação com o outroPaschoal (citado por Araujo, 1997), ao falar de educação psicomotora para crianças cegas, diz que é necessário permitir que a criança cega, desde pequena, se utilize do contato físico na relação corpo a corpo. Num trabalho psicomotor é necessário que o adulto permita essa entrega de si, para que ela possa sentir que o outro se movimenta, gesticula e que ela também pode se movimentar, gesticular, se soltar, etc. O autor diz que há nesse ato uma tomada de consciência por parte da criança do potencial motriz do seu corpo, de uma forma muito natural, livre, na brincadeira, no jogo, no momento em que ela está mais aberta, pois está mais absorta.A equoterapia, como uma atividade que envolve a psicomotricidade, pode proporcionar à criança cega esse contato físico e de uma forma muito mais ampla, pois, desde o momento que o praticante cego chega ao local das sessões, ele é recebido pelos terapeutas e auxiliares e, enquanto aguarda sua vez, participa de jogos e brincadeiras, que permitem essa relação corpo a corpo. Quando está montado, esse contato físico passa a ser com o cavalo, que ele explora por meio dos outros sentidos, enquanto realiza os exercícios programados e o cavalo está ao passo.Os diversos movimentos que ocorrem numa sessão de equoterapia além de contribuírem para essa tomada de consciência de seu potencial motriz , ocorrem, geralmente, de uma forma bastante prazerosa . Estimulação para o desenvolvimento tátil Grifin e Gerber (1996, p. 15), em seu artigo Desenvolvimento tátil e suas Implicações na Educação de Crianças Cegas, ao se referirem ao desenvolvimento tátil de crianças cegas dizem que: ... a modalidade tátil é de ampla confiabilidade. Vai além do mero sentido do tato: inclui também a percepção e a interpretação por meio da exploração sensorial. Esta modalidade fornece informações a respeito do ambiente, menos refinadas que as fornecidas pela visão. As informações obtidas por meio do tato têm de ser adquiridas sistematicamente, e reguladas de acordo com o desenvolvimento, para que os estímulos ambientais sejam significativos. [...] A ausência da modalidade visual exige experiências alternativas de desenvolvimento, a fim de cultivar a inteligência e promover capacidades sócio-adaptativas. O ponto central desses esforços é a exploração do pleno desenvolvimento tátil.O programa por nós desenvolvido e aplicado no atendimento equoterápico de crianças cegas privilegiou a estimulação tátil, pois desde o primeiro momento em que chegam ao local de realização das sessões, as crianças são estimuladas a efetuar o reconhecimento da área, o que chamamos de ambientação, e é por meio da experiência tátil e dos outros sentidos que a realizam. Em seu primeiro contato com o animal, a criança, por meio da modalidade tátil poderá perceber sua forma, a textura do seu pelo, o calor de seu corpo, seus movimentos respiratórios, as diferenças dos pelos da crina e da cola, e aos poucos o reconhecimento dos equipamentos de montaria que serão utilizados durante as sessões. Esse procedimento é repetido em todas as sessões, para que a criança cega adquira o reconhecimento da estrutura e da relação das partes com o todo e também a consciência de qualidade tátil, importante para o seu desenvolvimento.Reforço e motivaçãoA esse respeito Figueira (1996, p. 8), diz o seguinte: ... em cada etapa do desenvolvimento uma capacidade emerge e é trabalhada pelo organismo, passando a ser integrada em uma escala crescente de desenvolvimento. Para que isto ocorra a criança necessita ser encorajada e reforçada pelos pais. Se não há reforço e motivação esta criança será invadida por uma sensação de insegurança e medo. O desenvolvimento psicomotor se realiza pela combinação do prazer que a criança sente ao ter experimentado algo novo (uma aquisição motora e/ou sensorial) e o reforço familiar à aquisição feita. Na equoterapia, os praticantes são encorajados e reforçados pelos membros da equipe que estão realizando a intervenção e, a todo momento, a cada ação realizada, a cada insegurança vencida, são estimulados a continuarem. Todo esse trabalho é realizado de forma a tornar o tempo em que permanecem montados o mais agradável e prazeroso possível, além de aproveitar todos os momentos e situações para o desenvolvimento dos outros sentidos.Aquisição ou reaquisição de esquemas motores e/ou mentais .As crianças cegas devem ter a oportunidade de vivenciar experiências totais de forma inteligente, ampla e generalizada que não somente compreendam conhecimento verbal e tátil dos objetos, mas também sua posição no espaço e no tempo, suas relações com a criança e com outros seres e objetos. Dessa forma ela vai se organizando, conhecendo e sentindo-se segura e confiante para se lançar em novas experiências (Figueira, 1996). Nesse contexto o cavalo é um instrumento cinesioterapêutico, um ser vivente, dócil, que responde aos afetos que recebe, que tem vontade própria e que precisa ser dominado, para que o cavaleiro realize o manejo que desejar. Para Cittério (1999, p. 35): “A equoterapia poderá ser colocada num importante processo de aquisição ou reaquisição de esquemas motores e/ou mentais, no qual o indivíduo se tornará protagonista do momento reabilitador, um indivíduo ativo porque motivado pela relação com um outro ser vivente.” Herzog (1989) relata que o cavalo pode ser um instrumento de acesso entre a realidade do praticante e a do terapeuta, funcionando ainda como intermediário entre o mundo intrapsíquico do praticante e o mundo exterior. Assim, o cavalo proporciona ao praticante a criação de uma nova imagem corporal, devido às informações recebidas da montaria e à relação com a equipe, o que favorece a estruturação do eu. O deslocamento a cavalo, tendo pontos de referência (no nosso caso estímulos sonoros), exige a representação mental do gesto e do deslocamento. O praticante deve respeitar o animal, fazendo com que ele compreenda aquilo que ele, praticante, decidiu sozinho. Isso faz com que o praticante que não fazia isso na vida cotidiana, o faça com o cavalo, resultando em uma revolução própria.Estimulação motora
Figueira (1996), quando reporta à assistência fisioterápica à criança cega congênita, reafirma que a melhor ajuda que a fisioterapia pode prestar é por meio da estimulação motora. A criança deve aprender a se movimentar, a conhecer seu corpo e ter prazer em se deslocar para descobrir o mundo que a cerca e dominar o espaço. A passividade impressa pela ausência da visão pode implicar alterações nas seguintes áreas: tônus muscular, postura, coordenação motora e psíquica, equilíbrio, orientação espacial, cinestésica e social. O recurso mais apropriado é a cinesioterapia por meio de exercícios passivos, ativo-assistidos e ativo-livres, de acordo com o propósito em questão. A cinesioterapia, ou seja, terapêutica pelo movimento pode ser realizada pela estimulação auditiva, olfativa, gustativa, tátil, proprioceptiva e cinestésica, visando a desenvolver a consciência corporal, a coordenação motora, o equilíbrio, a correção postural, a marcha e a orientação no espaço. A respeito dos ganhos em nível neuromotor, da equoterapia, Cittério (1992) relata que estes se evidenciam sobre o alinhamento corporal (cabeça, tronco, quadril), controle das simetrias globais, equilíbrio estático e dinâmico e que em nível psicológico percebe-se a melhora na capacidade de orientação e de organização espacial e também na capacidade executiva. Na equoterapia o cavalo atua como agente cinesioterapêutico, facilitador do processo ensino–aprendizagem e como agente de inserção e reinserção social. Cittério (1999) aborda o assunto, afirmando que não devemos nos esquecer da hipótese comportamentalista na qual se baseia a equoterapia, método considerado como condicionamento motor impresso no ritmo e no comando, também chamado de “pedagogia em movimento” ou ainda “ciência do movimento”, e outros autores o tratam como “sistema de vida”.
quarta-feira, 16 de dezembro de 2009
A Organização da Equitação em Reflexos Condicionados
Quando o cavalo é bem adestrado, o cavaleiro assume o comando das decisões para as mudanças de velocidade e direção com muita facilidade. Ou melhor: a decisão do cavaleiro substitui a decisão do cavalo para acionar o seu sistema reflexo que dará início à cadeia de movimentos. O corpo e as pernas do animal começam a se movimentar automaticamente, mais ou menos como um avião voando ‘no piloto automático’. A questão que deve ser lembrada neste momento é que o cérebro do cavaleiro, aciona a seqüência de movimentos do cavalo e estes são mantidos automaticamente em funcionamento pelas células do sistema nervoso situadas nas dilatações cervical e lombar do animal. Mas o cavalo é perfeitamente capaz de, durante a equitação, tentar tomar decisões por conta própria. Por exemplo, querer disparar de volta para as baias se não estiver gostando do passeio, aproximar-se de outro animal, ou simplesmente empacar diante de alguma coisa que o amedronta. Neste instante, haverá uma disputa entre o cavalo e o cavaleiro pelas tomadas de decisões. Neste momento, também, o cavaleiro inexperiente geralmente tenta retomar o comando à força usando esporas e chicote, que despertam o cérebro e a consciência do animal, e em conseqüência disso a sua rebeldia – e a confusão estará armada, como já vimos centenas de vezes por aí. Numa situação semelhante, o cavaleiro experiente, ao contrário, retomará sutilmente o comando da situação sem se fazer muito notado pelo cavalo – no máximo o animal perceberá a sua presença quando ele transmite, com atitudes e gestos tranqüilos a necessidade de avançar — o bom cavaleiro tem todos os atributos naturais de um líder. O conhecimento da cadeia de reflexos da equitação é de grande importância para o cavaleiro moderno que pode, finalmente, contar com um paradigma científico para a orientação de como organizar os seus comandos de maneira mais técnica e eficiente. O adestramento e o treinamento modernos são simplesmentea organização de toda a ação eqüestre em reflexos que foram condicionados e automatizados pelo adestrador durante muitas horas de treino. Esta organização dos reflexos da equitação do cavalo começa com o adestramento primário, também conhecido como doma de chão, onde o animal aprende a andar, trotar ou marchar, galopar, e mudar de direção, com os comandos emitidos pelo adestrador. A ‘doma’ moderna (1) deve ser entendida como um vôo simulado na aviação onde o cavalo aprende todas as manobras, sem os perigo da ação real. O potro, durante o adestramento primário, vai aprender as ações da equitação (2) administradas de forma compreensiva e progressiva, até receber o cavaleiro no dorso, quando então começa o adestramento básico, também conhecido como doma de cima, que é uma continuação dos mesmos comandos ensinados durante o adestramento primário, agora acionados pelo adestrador montado no dorso do cavalo. Etapa por etapa, o animal, com sua memória biológica infinita, aprende a se movimentar com a destreza e o seu equilíbrio natural, em todos os momentos da equitação. O ‘dressage’, ou adestramento clássico, é a modalidade eqüestre que mais depende da organização dos reflexos naturais do cavalo em seqüências de reflexos automatizados. Todos os andamentos, as transições, as piruetas e os apoios laterais dependem de um longo treinamento do cavalo e do cavaleiro para atingirem a fluência e perfeição destes movimentos cooperados. No hipismo, a aproximação dos obstáculos e a organização corporal do cavalo e do cavaleiro para realizarem o salto com movimentos casados, também requerem uma seqüência de reflexos ensaiados e automatizados para garantir o rendimento máximo da ação. Poderíamos até dizer que, o salto ideal deveria ser ensaiado com a precisão de uma figura de ‘dressage’. Na equitação rural, as provas de baliza e três tambores também são figuras automatizadas. Mas na apartação, por exemplo, a maioria dos comandos não parte do cérebro do cavaleiro. Os comandos reflexos partem do sistema nervoso do boi e são imitados pelo cavalo, em centésimos de segundo. É um duelo pessoal entre o cavalo e o boi, onde a função do cavaleiro é mostrar qual o bovino da manada que precisa ser separado, e a partir daí procurar não atrapalhar o trabalho do animal. Organizar a ação eqüestre em reflexos automatizados, sem provocar dor no cavalo, (porque isto despertará a consciência e a rebeldia do animal), é o grande segredo da equitação de alta performance, que está formando os grandes conjuntos e campeões da atualidade. Com esta nova percepção da realidade eqüina deverão também cessar as velhas rivalidades entre os sistemas de adestramento das escolas de equitação romana, germânica e de trabalho (rural ou western), que se digladiam há séculos sobre as melhores técnicas de se adestrar cavalos. Agora sabe-se que o bom sistema é aquele que se utiliza dos movimentos eqüestres na seqüência biológica em que o próprio cavalo se movimenta. Agora, também, podemos compreender porque os grandes mestres da equitação acadêmica, os homens que fizeram a história da equitação ocidental – Xenofonte, Pluvinel, Newcastle, Nestier, Eisenberg, La Guérinière, Baucher, L’Hotte, Fillis, e tantos outros, recomendavam o adestramento e o treinamento paciente, sem provocar dor no cavalo, com aulas curtas e freqüentes para não estressar o animal. “Meu objetivo é trabalhar o cavalo com calma, por pouco tempo, mas sempre” escreve Antoine de Pluvinel e “O cavalo deve ser devolvido à sua baia com o mesmo bom humor com que saiu”, recomenda La Guérinière. E a neurologia moderna confirma estas declarações.
Organizar a equitação em ações automatizadas no cavalo e no cavaleiro, demanda tempo e paciência. Mas, esta informação científica é certamente o maior trunfo da equitação do século 21, que agora promete se tornar mais bonita, mais espetacular e mais satisfatória tanto para o cavalo quanto para o cavaleiro. Mas, tudo isso poderia ter acontecido há mais de 100 anos se dois importantes personagens da história tivessem se encontrado. Com a participação involuntária de Dr. James Rooney. Particularmente eu não chamo de ‘doma’ a iniciação do cavalo para a equitação. Prefiro a expressão ‘adestramento primário’, porque este estágio se refere exatamente à fase primária da educação onde o animal aprende a aprender – sobretudo como lidar com os seres humanos com quem eles, em breve, vão ter que fundir os seus recursos neurofisiológicos durante a equitação. (2) Todas as modalidades eqüestres—o polo, o salto, o dressage—envolvem apenas três ações do cavalo: mudanças de velocidade, mudanças de direção e sustentação dos andamentos. O salto é uma mudança de direção para cima.
As Contribuições da Equoterapia na Educação Inclusiva
Maria Cristina Guimarães Brito
sábado, 12 de dezembro de 2009
Bioética, Ética e Equoterapia
Os antigos filósofos gregos refletiam sobre a moral, os costumes, as leis, a ciência e a ética. Propunham eles que cada atividade buscasse a perfeição pelo conhecimento da realidade e da compreensão dos fins e dos valores da vida. A ciência biomédica pode criar dilemas morais, quando reflete sobre o que valia nos tempos antigos e o que vale atualmente, mas não nega os valores fundamentais como os da vida e da liberdade. A tecnologia biomédica pode nos ajudar a mudar de atitude frente a doentes e às doenças, sempre com base nos valores mais profundos, justificando a nova posição. A Bioética , mais do que uma disciplina, é o espaço de confronto de saberes sobre os problemas surgidos do progresso das ciências biomédicas, das ciências humanas e das ciências da vida. Dessa forma, envolvendo problemas muito complexos, a Bioética tem conotação multidisciplinar com enfoques filosófico,biológico,jurídico, médico, sociológico, teológico, ecológico, psicológico, genético. Este enfoque difere do multidisciplinar que conhecemos e, em geral, é sinônimo de um grupo de profissionais de várias formações, que não interagem entre si e que não funcionam como equipe. A Bioética tem uma proposta de integração entre as disciplinas.
“A bioética é a disciplina ética que se formou em torno de pesquisas, práticas e teorias que visam interpretar os problemas levantados pela biotecnociência e pela medicina. Por isso, a bioética é
necessariamente interdisciplinar...” Pegoraro, p75.
A EQUOTERAPIA, método terapêutico e educacional que utiliza o cavalo para o desenvolvimento biopsicossocial de pessoas com necessidades especiais, preconiza o atendimento do cliente e de sua família por diversos profissionais. Entendemos que nenhum dos profissionais deve ocupar o lugar de onde possa decidir as possibilidades de intervenção sobre os problemas, sem observar os vários enfoques dos saberes que buscam desenvolver a potencialidade do ser humano, numa uma expansão da consciência histórica, na explicitação dos princípios e dos valores da vida humana pessoal, animal, vegetal e até cósmica. Neste sentido, a abordagem metodológica transdisciplinar auxilia nas decisões tomadas, na medida em que é interpretada pela visão dos diferentes profissionais da área de atendimento, pelos familiares e, em algumas situações, pelo próprio praticante. O progresso técnico traz a afirmação de uma nova cultura, onde a ética do caráter sagrado do dom da vida, enfrenta a ética da qualidade da vida que está centrada no respeito às escolhas autônomas dos indivíduos e tem como objetivo o bem estar e a melhora na qualidade da vida. As questões bioéticas, os dilemas profissionais, surgem quando há crise de convicções éticas e ontológicas; quando são refletidos/discutidos, o embasamento dos valores, as diferentes concepções culturais, as crenças, a moral e as leis da sociedade. Temos que estar atentos para que a consciência ética não seja neutralizada pela consciência técnica, que muitas vezes obedece a padrões econômicos, nstitucionais e de poder. A Ética é uma qualidade do caráter e o caráter se expressa no modo de agir de uns com os outros. É o fundamento da condição do ser humano que reflete sobre si, sobre as mais complexas relações e derivações de seu mundo, da história da humanidade, das ciências e da tecnologia. Na definição de Álvaro Valls, ética é “tradicionalmente entendida como um estudo ou uma reflexão, científica ou filosófica, e eventualmente até teológica, sobre os costumes ou sobre as ações humanas”. Nas circunstâncias de atendimento na equoterapia, vários profissionais atuam e cada profissão tem seu próprio código de ética. A ética deontológica determina a forma de agir do profissional com o seu cliente. Entendemos que cada centro de equoterapia deve definir a ética de atendimento, deve ter clara uma teoria de sustentação para as ações concretas, que visam o desenvolvimento da dimensão, do potencial do praticante. È evidente que essas diversas abordagens conceituais dão origem a uma multiplicidade de metodologias operacionais. Isto diferenciará as ações, fundamentadas não somente na qualidade técnica do profissional que atende, mas na qualidade pessoal, humana de cada um e da equipe. A organização do trabalho, as regras internas claras, geradas no consenso do grupo, trarão estímulo àqueles que imprimem sentido a tudo que fazem, sejam eles os praticantes, os seus responsáveis e os técnicos, desta forma possibilitarão o reconhecimento da qualidade do centro. Para todos os envolvidos no processo, o espaço do centro, de maneira holística, é um local de aprendizado para a vida, não só para o praticante que se prepara para a inserção em outros espaços sociais e de desenvolvimento. É de fundamental importância um grande envolvimento de todos que se inserem no centro de equoterapia; - a preocupação com atitudes éticas e moralmente correta; - o respeito aos padrões de direitos humanos e de participação; - o respeito ao meio ambiente e ao animal. Em relação aos centros congêneres, deve ser preservada a ética dos negócios, com respeito mútuo, tendo em vista a singularidade da responsabilidade social dos serviços prestados. A publicação de trabalhos científicos e a união de esforços junto à Associação Nacional de Equoterapia, contribuirão para o reconhecimento da importância desta modalidade de atendimento às pessoas com necessidades especiais e todos serão beneficiados. Quanto aos trabalhos de pesquisa há que atentar para a legislação pertinente e à ética na pesquisa, neste caso a bioética, uma vez que todos os registros são sobre atendimentos, ações, interlocuções, e vários aspectos da saúde física e comportamental de seres humanos. Influenciada pelo filósofo Kant, a Bioética desenvolveu, como tentativa de orientação prática, três princípios reguladores da assistência e da pesquisa com o ser humano:Princípio da autonomia que manda respeitar as decisões e convicções morais do usuário do serviço, após informar a pessoa sobre todos os procedimentos terapêuticos ou de pesquisa, que poderão ser ou não ser aplicados; Princípio da beneficência determinando que as conseqüências de toda e qualquer intervenção sejam em benefício da pessoa, fazer sempre o bem ao paciente é um dever da equipe de saúde. Princípio da justiça, ordenando que todas as pessoas, usuárias do serviço, sejam tratadas com eqüidade, sem diferenças quando se encontram na mesma situação. Todos têm igual direito à saúde. Em se tratando da equoterapia, a autonomia é respeitada na medida em que os responsáveis e o próprio praticante são informados das modalidades e do programa de atendimento. Sabemos que a família e/ou responsável já estiveram em outros serviços de saúde, trazendo bagagens de expectativas e de frustrações em relação a tratamentos, contudo, não se pode assumir atitude paternalista. O estabelecimento da confiança inicial é básico para fortalecer um vínculo com a equipe. Este aspecto moral da relação está na origem da autoridade profissional e do respeito mútuo dos participantes. Em entrevista com familiares ou responsáveis, são colhidas as informações sobre as vivências anteriores e as dúvidas são esclarecidas. Após o trabalho de avaliação do cliente, realizada pelos profissionais da equipe do centro de equoterapia, estudam-se as possibilidades de tratamento, sem transferir a responsabilidade profissional, compartilha-se a tomada de decisão. Obtendo-se consentimento para trabalhar com a pessoa, reforça-se a necessidade de real engajamento de todos e se define o cronograma de atendimento. Devem ser garantidos ambiente de segurança física e emocional, qualidade técnica, ética e moral da equipe do centro de equoterapia, para que toda a intervenção seja para o bem da pessoa. Quando há uma situação conflitante, o que desconcerta aos envolvidos, é preciso se refletir sobre as justificativas para a decisão tomada. A fala dos profissionais nestas ocasiões, deve ser de esclarecimento e não de imposição aos demais, apontando com realismo e pesando as conseqüências na circunstância concreta. Não pode haver um padrão de comportamento rígido, há que se ver a diversidade e multiplicidade de opções e escolher a de menor risco, de maior benefício para o praticante. Sobre o terceiro princípio , o da justiça, a bioética mais abrangente se refere à instituição do Estado que é a responsável pela distribuição justa das verbas para a saúde, para a pesquisa, para a educação,etc...Quanto ao centro de equoterapia tem o sentido da obrigação de igualdade de tratamento na esfera interpessoal e o de preocupação com o benefício do praticante. A dificuldade em precisar o que na realidade significa justiça aponta para a busca da eqüidade, que é definida como “1.1 respeito à igualdade de cada um, que independe da lei positiva, mas de um sentimento do que se considera justo, tendo em vista as causas e as intenções.” HOUAISS. Nós que trabalhamos com pessoas devemos estar atentos aos benefícios das pesquisas e dos novos tratamentos, e aos riscos de abusos a que todos os seres vivos, o ambiente e o universo estejam, por desventura, submetidos. Os profissionais em atividade transdisciplinar refletem a luz dos múltiplos conhecimentos da humanidade o progresso das ciências biomédicas. Sendo a equoterapia um tratamento para seres humanos com necessidades especiais, é recomendado que se introduzam nos cursos de especialização o conceito básico da ética e da bioética, nesta modalidade de cuidado.
Clair da Graça de Souza Zamo Enfermeira, Mestre em Educação e Doutoranda UFRGS.
Renata de Souza Zamo Instrutora de equitação em Equoterapia, Psicóloga e Especialista em Psicologia do Esporte.
quarta-feira, 9 de dezembro de 2009
Postura sobre o Cavalo e a Velocidade do Passo : a influencia na ativação dos músculos eretores lombares
Média Pico
Dorsal Dorsal Dorsal Dorsal
Lento Rápido Lento Rápido
Média 56,89 77,22 103,11 142,44
Mediana 47,5 56 75 85,5
Desvio Padrão 44,92 61,31 89,81 120,77
Limite Inferior 36,14 48,90 61,62 86,65
Limite Superior 77,64 105,54 144,60 198,24
p-valor 0,001 0,004
Para a posição de dorsal, concluímos que existe diferença significante entre as velocidades, tanto para a média quanto para o pico. Averiguamos ainda que em ambas as situações a maior média se encontra sempre na velocidade rápida.
Média Pico
Frontal Frontal Frontal Frontal
Lento Rápido Lento Rápido
Média 30,00 38,00 57,11 67,44
Mediana 25,5 28,5 47 65,5
Desvio Padrão 21,40 24,70 39,20 31,12
Limite Inferior 20,11 26,59 39,00 53,07
Limite Superior 39,89 49,41 75,22 81,82
p-valor 0,009 0,107
Concluímos que existe diferença média estatisticamente significativa entre as velocidades para a posição Frontal somente nos valores de média, onde inclusive, a média da velocidade rápida é de fato maior que a média da velocidade lenta. Para pico não foi encontrada diferença significante entre as velocidades.Continuaremos comparando as velocidades, mas agora para a posição de dorsal.
Média Pico
Dorsal Dorsal Dorsal Dorsal
Lento Rápido Lento Rápido
Média 56,89 77,22 103,11 142,44
Mediana 47,5 56 75 85,5
Desvio Padrão 44,92 61,31 89,81 120,77
Limite Inferior 36,14 48,90 61,62 86,65
Limite Superior 77,64 105,54 144,60 198,24
p-valor 0,001 0,004
Para a posição de dorsal, concluímos que existe diferença significante entre as velocidades, tanto para a média quanto para o pico. Averiguamos ainda que em ambas as situações a maior média se encontra sempre na velocidade rápida.Continuando, vamos comparar a posição frontal versus dorsal para o passo rápido:
Média Pico
Frontal Frontal Frontal Frontal
Rápido Rápido Rápido Rápido
Média 38,00 77,22 67,44 142,44
Mediana 28,5 56 65,5 85,5
Desvio Padrão 24,70 61,31 31,12 120,77
Limite Inferior 26,59 48,90 53,07 86,65
Limite Superior 49,41 105,54 81,82 198,24
p-valor 0,002 0,006
Averiguamos que, também para o movimento rápido, existe diferença entre as posições que são consideradas estatisticamente significantes, tanto em média quanto em pico. Verificamos ainda que a média da posição dorsal é sempre a maior que a média da posição frontal.O presente estudo foi realizado apenas em indivíduos sem comprometimento motor, com o intuito de excluir possíveis interferências de tônus ou alterações de equilíbrio. A análise comparativa foi realizada através de testes estatísticos individuais, ou seja, a variação do recrutamento muscular foi vista de acordo com os dados do indivíduo com ele mesmo, para então serem pareados com os demais.Com isto, pudemos observar a interferência direta da velocidade da andadura do cavalo no grau de recrutamento muscular, como também a mudança de postura variandosignificativamente o recrutamento muscular. A variação do passo no cavalo, velocidade, estimulação da direção e equilíbrio têm comoresposta o deslocamento do centro de gravidade do paciente, facilitando na dinâmica daestabilização postural e restabelecimento da desordem motora.1,4,7,8 Portanto, é necessário que o paciente aumente o recrutamento muscular para manter-se sobre o cavalo, o que se pôde observar na diferença de ativação da musculatura analisada deste em quaisquer das posturas, em comparação tanto com o cavalo no passo lento, como deslocando-se em maior velocidade – sempre mantendo a andadura ao passo. O sistema nervoso central interpreta estes desequilíbrios como instabilidades posturais capazes de provocar queda, respondendo com aumento do tônus postural. Assim, os eretores da coluna são ativados como forma de manter suas reações de equilíbrio. Gusman e Torre (1998) definem que as reações de equilíbrio servem para ajustar a postura, manter e recuperar o equilíbrio antes, durante e depois do deslocamento do seu centro de gravidade. O estudo da atividade muscular durante os movimentos do passo do cavalo é de suma importância para o fisioterapeuta, podendo este, a partir destes dados, realizar as mudanças posturais de forma mais direcionada a cada paciente. Com os resultados obtidos, pudemos concluir que a postura dorsal solicitou sempre maior ativação muscular dos eretores lombares, conseqüentemente, é a postura que irá trabalhar com maior intensidade o controle do tronco. Na prática clínica nos deparamos com alguns pacientes que apresentam limitações articulares, decorrentes de espasticidade severa, encurtamentos musculares, e outras complicações. Estas limitações muitas vezes impedem as mudanças posturais que poderiam ser realizadas numa sessão de hipoterapia. Com isto, o trabalho baseado na velocidade do passo do cavalo tornase essencial para o direcionamento do ganho motor desejado a determinados pacientes. Vimos neste estudo que o recrutamento muscular variou significativamente nas mudanças da velocidade do passo do cavalo, o que na prática significa que, mesmo sem alterar a postura sentada no cavalo, podemos recrutar de diferentes formas e intensidades a musculatura do tronco, variando assim a intensidade do trabalho postural, sem precisar deslocar o paciente sobre o cavalo. Com isto, sugerem-se futuros estudos aplicados a patologias diversas, traçando assim a conduta terapêutica mais adequada para cada patologia tratada.
Autora: Rebeca de Barros Santos Co-autores: Fábio Navarro Cyrillo,Mayari Ticiani Sakakura,Adriana Pagni Perdigão,Camila Torriani